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sábado, 26 de junho de 2010

Seguir sozinhos.


Hoje senti sua falta,
Tomou o café comigo,
Leu o jornal ao meu lado,
Mergulhado em pleno silêncio foi-se para o trabalho,
Ouvi o som do chuveiro á tardinha,
Não o vi chegar porque nada disse,
Saiu envolto na toalha e nem me viu,
Parecia que minha presença ali nunca existiu,
Se trocou, se perfumou...
Esperei que dissesse algo sobre meu corte novo,
Sobre os brincos que a muito não usava,
Ou a cor do vestido que você tanto gostava,
Mas nada disso aconteceu,
Jantamos em meio a uma nuvem de silêncio,
Dirigia em sua direção meu olhar, mas não encontrava o seu,
O som irritante do garfo era único a tocar a superfície do prato,
Dispensou a sobremesa,
Levantou-se e foi para o quarto,
Voltou logo em seguida,
Parecia decidido a dizer algo, mas como não o sabia,
Eu aguardei,
Olhei-o ternamente nos olhos,
Nos quais já não me via fazia tempo,
Aqueles poucos minutos pareciam um eterno tormento,
_Eu já sei...
Espantado sei que o deixei,
Abracei-o demoradamente,
Me doía por dentro,
Eram tantos anos que não notamos e foram se perdendo com o tempo,
Apanhei minha mala ao lado da porta,
Atitude de quem sai de uma batalha ferida, mas honrada,
Parei alguns instantes a olhar para o antigo ninho,
Era doloroso abrir a porta,
Sentir que aquilo não teria mais volta,
Cruzei a soleira,
Os pés pesavam tal como o coração em descompasso,
E eu alcei vôo,
Não tendo medo de seguir,
Pois a partir daquele momento seria uma vida só minha,
E a lembrança de tais sentimentos, nunca ruirão com o tempo,
Porque entre os escombros nunca se perderão duas vidas que decidiram seguir sozinhas.

Raquel Luiza da Silva.

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