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segunda-feira, 25 de março de 2013

Inverno.


Talvez o sol não nasça hoje e eu veja com deslumbre incomum o tom acinzentado do dia,
Talvez eu pinte a tela em branco há muito esquecida no canto de algum canto da sala...
E pela janela eu abrace o frio que brinca com minha pele ressequida e desnuda,
E apreciei a beleza nas cores mortas das árvores e no semblante cansado das pessoas apressadas e caladas.
Talvez eu encontre um pouco de graça na solidão cheia de matizes ocultas em cada parte dessa casa,
Encontre vida nos retratos mofados em algumas tantas gavetas,
Brinque com o vazio das coisas, aquelas que foram minhas, só minhas, de mais ninguém.
E no acinzentado desse dia eu sinta falta,
Falta sem fanatismo, dos aromas e cores da primavera,
Das lembranças pintadas em minha mente,
Dos quadros acabados pelas paredes,
Das paredes que ocultaram gemidos, lágrimas e sorrisos...
Que essa saudade não me consuma,
Que venha doce e tranquila,
Mas que parta com os primeiros raios de sol ao amanhecer o dia ...


Raquel Luiza da Silva.

sexta-feira, 22 de março de 2013

E o tempo que era eu.




Eu era tempo,
Tempo perdido,
Perdido em algumas bocas,
Encontrado em algum braços,
Arredio em alguns momentos,
Fugidio em algumas horas...
Monótono,
Julgado, não conjugado,
Tempestuoso e primaveril,
Dançando por ai,
Arrastando meus pesados fardos...
Tempo,
Sem tempo...
De peito arfante,
De alma transparente,
Reluzente,
Carente,
Talvez...
Era tempo corrente,
Sedento,
Tempo que não volta,
Que se perdia em algumas bocas,
Que se encontrava em alguns tantos braços...

Raquel Luiza da Silva.

terça-feira, 12 de março de 2013

Tatuagem.


Saudade é um pouco do passado esquecido na gente,
Esquecido em algum canto da casa,
Nas cinzas que voaram com o vento,
No sorriso que não envelheceu,
Na pele sulcada, 
Saudade é a gente esquecido,
Em algum canto,
Em porta-retratos,
Em beijos, 
Em abraços...
Um misto de aromas que ficaram na mente,
Um misto da mente que ficou na gente...
Saudade é o traçado de linhas em velhas cartas,
Traçado de conteúdo em tantas linhas,
Um monte de coisas,
Tantas coisas minhas.
Saudade é a definição do tempo que ficou de fora da cronologia,
Há o tempo que passa,
Há o tempo que vive-se,
Há o tempo que espera.
E há o tempo que  guarda-se,
Que nunca passa,
Que nunca mais vive-se,
Que nunca mais espera-se.
E então  essa saudade, 
Repleta,
Vazia...
Cheia de tempo,
Em todos os tempos,
Feito tatuagem na pele que envelhece,
Que nunca se apaga,
Em letras negras, com aroma de tantas tardes...
Lê-se esse tempo...
Tempo, saudade.


Raquel Luiza da Silva.

domingo, 3 de março de 2013

Apenas vivi...


Vago por esses caminhos,
Vago pela essência escondida no âmago dos brutos,
Transpiro o suor dessa terra, sou pó.
E posso ver além, bem além dos olhos que possuo nessa face enrugada.
Talvez ainda sinta os efeitos dos impulsos ardis da juventude,
Talvez ainda sinta os efeitos dos sentimentos que passaram por esse coração...
Velho coração...
E há ainda quem diga ao tempo que volte,
Que corra...
Eu apenas digo que siga seu caminho,
Que não volte, que não corra,
Apenas siga...
Assim como eu...
Hoje tenho histórias,
Sentimentos,
Memórias.
Penso quão vazio seria se nada trouxesse comigo,
Se os erros não incorporassem com os acertos que tive por ai,
Se não abraçasse a vida com assiduidade e ao mesmo tempo com a morosidade de certas vontades minhas.
Eu vivi, poderei dizer algum dia,
Sem palavras bonitas,
Sem palavras mentidas,
Sem muitas palavras.
Vivi como tinha que viver,
Por entre caminhos,
Por entre flores e espinhos.
Vivi como vive todo e qualquer ser humano,
Sendo pó e temendo voltar ao pó, inevitável estado da matéria humana.
Mas não falemos de morte,
Ainda posso exprimir minhas poucas idéias,
Algumas palavras dessa mente, que não mente, mas talvez finja.
Ora, estamos em um grande palco!
Atuando, amargos, felizes, agoniados, reis, rainhas, palhaços...
Por vezes, gosto de ficar aqui, apenas aplaudindo...
E sei que muitos fazem o mesmo,
Tal como eu, esperando a hora de encenar ou encerrar...
Mas já estou velho para as grandes peças,
Fui menino um dia, sabia?
Claro que sabia...
E quando disse que vagava por caminhos, eu menti, ou melhor, fingi...
Pois já faltam-me forças para tais peripécias,
Apenas gosto de sentir o que minha mente ilimitada consegue trazer ou reproduzir com um toque de satisfação minha.
Bom, as cortinas começam a baixar,
Sinto que minha peça sairá de cartaz em breve,
E minha encenação nesse grande palco que é a vida, ficará guardada em algumas cabeças, e se tiver um pouco mais de sorte, em alguns corações.
E como um bom profissional na arte de viver...
Não quero drama,
Que seja feliz o adeus, sem piegas, ainda que finjam, ainda que mintam...
Apenas adeus!
E quando lembrarem-se de mim,
Sintam sem delonga o poder do que estará gravado em minha lápide...
Vivi como tinha que viver.


Raquel Luiza da Silva.

sexta-feira, 1 de março de 2013