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quarta-feira, 26 de maio de 2010

Veneno.


Não havia mais luz,
A fera rastejava pela noite,
Perdida na ventania que lhe chocava contra o rosto feito açoite,
Suas feridas sangravam,
Um sangue invisível que a carne não lhe maculava,
Os pés descalços a ferirem-se nas pedras soltas da rua,
Sua pele alva parcialmente nua,
E pelos becos perambulava doentia criatura,
Coberta pelo que sentia, sua fiel agrura,
Tinha apenas a escuridão por testemunha fiel,
Da queda na terra, após provar sonhado céu,
E seu corpo, o mesmo que entregara a tão sonhado moço,
Parecia agora deixado na escuridão do mais profundo poço,
E seus passos eram sôfregos,
De pobre criatura a fugir em seu devido esforço,
Sem a piedade de alguém que lhe estendesse a mão,
Em uma das curvas deixou-se ir ao chão,
Suas forças abaladas não lhe permitiam continuar,
Pareceu-lhe ouvir uma suave música, vinda de algum lugar,
Seu triste olhar a procura de uma gota que fosse do luar,
Estava só e aquilo não podia mudar,
Fechou os olhos sentindo com horror a vida acabar,
Embebida na melancolia do triste momento,
Sentiu feliz ao ver findar seu grande tormento,
Porém algo tocou-lhe os ombros,
E seus olhos se abriram em profundo assombro,
Sussurrando em seu ouvindo o cometido engano,
Que daquela bela jovem ele era apenas amo,
E sempre lhe fora fiel,
Desde o momento em que lhe prometera o céu,
Porém ela não entendera tal companhia,
E se lançara ao ar feito triste cotovia,
Sorveu do cálice o amargo veneno,
Da desconfiança primeiras gostas que lhe molharam a boca,
Agora o arrependimento lhe consumia, desejosa de voltar,
Caída ali, o amado parado assustado ao vê-la, estático,
Ela voltou a cabeça na direção da face que lhe fitava paciente,
Queria regredir no tempo,corrigir o errôneo momento,
Mas aquilo apenas aumentava seu tormento,
Estendeu a mão como num gesto de devoção ao amado que continuava ali parado,
Sem saber o que fazer, sem querer acreditar,
Então ela cheia de medo,
Olhou para a face e sussurrou em segredo: Quem és tu que veio minha agonia aumentar?
Perante o fim iminente, novamente sentiu a mão sobre o ombro pesar.
E a resposta soou como sentença, impiedosa e fria antes da ultima lágrima rolar:
_Sou a morte e vim te buscar.


Raquel Luiza da Silva.

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