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sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

O adeus do Pierrot


Eu precisava de um pouco mais de mim, resolvi deixar de lado minhas vestes negras,
Luto permanente do teu adeus, que me fez viúvo sem ter tu abandonado a vida.
Precisava olhar-me no espelho novamente e ver que a beleza que se esvaíra aos poucos ainda podia ser reavivada ao menos em parte pelas maquiagens coloridas.

A casa precisava de mais cor, mais luz... Poderia eu voltar novamente á viver após tantos anos amargos de introspecção?
Doe-me lembrar como foi, reviver as cenas ,os momentos se tornaram rotina dolorida, mas tinha que fazer isso para não me esquecer da tua ultima imagem, o adeus, a despedida.

A faxina precisa ser feita, a faxina da alma, limpar cada canto, recanto, arejar, deixar o sol entrar, vislumbrar o nascer, o pôr de cada dia...
Cantar a canção alegre que toca nas ruas, convidativa á bailar, me misturar aos arlequins e colombinas, deixar enfim a vida continuar.

Porém... Não consigo arredar os pés dessa soleira, me distanciar da dor dilacerante que segue, me persegue...
Preso á você, aos momentos, ao amor, á loucura que ainda me faz te esperar.
Não mais regressarás, algo em mim diz isso, porém não consigo ouvir e ainda espero, sem acreditar que foi o fim.

Vozes se misturam, num carnaval barulhento, cheio de serpentinas, plumas e paetês...
Da janela, apenas uma viúva em vida observa o movimento, alguns passam e me julgam fantasiado...
Outros passam e têm pena da figura que vêem, sofrida, enrugada, morta em vida.

Todos os carnavais são a mesma sensação de que irá voltar, porém...
A música se acaba, cessam-se as vozes e os carnavalescos se vão, assim como você se foi um dia, com ele...
Tão belo arlequim de sorriso falso e maquiado e eu fiquei só, triste Pierrot apaixonado.

Novamente fecharei as portas e janelas, da casa, da minha própria alma,
A espera do próximo carnaval, para que me invada a vontade de limpar tudo novamente,
Acreditar que em algum momento do meio da multidão sairá e em meus braços descansarás.

Pobre Pierrot em luto, sua amargura, será eterna, porque não vês?
Olho-me no espelho, pareço um vulto, envolto no negror da agonia,
Tenho sede, o cálice sobre a mesa é proposital, convidativo, festa, último carnaval
E me delicio com o sabor amargo que me rouba a vida, me sentencia.

Corpo ao chão, casa fechada, as vozes lá fora se findaram de vez,
Apenas eu sorrio a bailar pela casa, atravessando móveis, fazendo ranger a madeira do chão...
Não existem mais olhares em minha direção.

Exausto enfim, noto que estou só e sinto pena de mim, minhas vestes continuam negras, O luto sou eu e noto que não mais existe música e o que fica é a lembrança do teu adeus.
Triste Pierrot apaixonado é o que agora sou, fadado á espera eterna de minha colombina que se foi com um arlequim de sorriso falso e maquiado no carnaval passado.


Raquel Luiza da Silva

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