
Eu precisava de um pouco mais de mim, resolvi deixar de lado minhas vestes negras,
Luto permanente do teu adeus, que me fez viúvo sem ter tu abandonado a vida.
Precisava olhar-me no espelho novamente e ver que a beleza que se esvaíra aos poucos ainda podia ser reavivada ao menos em parte pelas maquiagens coloridas.
A casa precisava de mais cor, mais luz... Poderia eu voltar novamente á viver após tantos anos amargos de introspecção?
Doe-me lembrar como foi, reviver as cenas ,os momentos se tornaram rotina dolorida, mas tinha que fazer isso para não me esquecer da tua ultima imagem, o adeus, a despedida.
A faxina precisa ser feita, a faxina da alma, limpar cada canto, recanto, arejar, deixar o sol entrar, vislumbrar o nascer, o pôr de cada dia...
Cantar a canção alegre que toca nas ruas, convidativa á bailar, me misturar aos arlequins e colombinas, deixar enfim a vida continuar.
Porém... Não consigo arredar os pés dessa soleira, me distanciar da dor dilacerante que segue, me persegue...
Preso á você, aos momentos, ao amor, á loucura que ainda me faz te esperar.
Não mais regressarás, algo em mim diz isso, porém não consigo ouvir e ainda espero, sem acreditar que foi o fim.
Vozes se misturam, num carnaval barulhento, cheio de serpentinas, plumas e paetês...
Da janela, apenas uma viúva em vida observa o movimento, alguns passam e me julgam fantasiado...
Outros passam e têm pena da figura que vêem, sofrida, enrugada, morta em vida.
Todos os carnavais são a mesma sensação de que irá voltar, porém...
A música se acaba, cessam-se as vozes e os carnavalescos se vão, assim como você se foi um dia, com ele...
Tão belo arlequim de sorriso falso e maquiado e eu fiquei só, triste Pierrot apaixonado.
Novamente fecharei as portas e janelas, da casa, da minha própria alma,
A espera do próximo carnaval, para que me invada a vontade de limpar tudo novamente,
Acreditar que em algum momento do meio da multidão sairá e em meus braços descansarás.
Pobre Pierrot em luto, sua amargura, será eterna, porque não vês?
Olho-me no espelho, pareço um vulto, envolto no negror da agonia,
Tenho sede, o cálice sobre a mesa é proposital, convidativo, festa, último carnaval
E me delicio com o sabor amargo que me rouba a vida, me sentencia.
Corpo ao chão, casa fechada, as vozes lá fora se findaram de vez,
Apenas eu sorrio a bailar pela casa, atravessando móveis, fazendo ranger a madeira do chão...
Não existem mais olhares em minha direção.
Exausto enfim, noto que estou só e sinto pena de mim, minhas vestes continuam negras, O luto sou eu e noto que não mais existe música e o que fica é a lembrança do teu adeus.
Triste Pierrot apaixonado é o que agora sou, fadado á espera eterna de minha colombina que se foi com um arlequim de sorriso falso e maquiado no carnaval passado.
Raquel Luiza da Silva
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