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terça-feira, 15 de setembro de 2009

Da tristeza.


Nem sempre a tristeza é um sentimento ruim, como muitas vezes denominamos, e assim o fazemos erroneamente porque não sabemos controlar suas proporções em nossa vida e tão pouco compreendemos que depressão é quando nos aninhamos na demasia desse sentimento que se torna doentio, porém quando superficialmente o espelhamos em nossos momentos, de forma equilibrada transformamo-o em poesia. Eu sempre me vali desse lado, o de que “Quanto mais triste mais bonito soa” e acabei escrevendo coisas não tão ruins e que já me valeram preencher algumas páginas em antologias poéticas.
Sempre tive na imagem de um grande poeta mineiro o apego e o zelo pela tristeza moderada, transformando aquela dorzinha chata e incômoda em pérolas literárias, foi ele, quem um dia disse que havia uma pedra no meio caminho e eu entendi á minha forma, ou seja,eu poderia parar diante dessa pedra, salta-la e seguir em frente, mas sem carregar muita coisa comigo, viver girando em torno dela, decidindo o que fazer, pisá-la e me gabar disso, ou simplesmente apanhá-la e seguir com ela, tendo em mente que é melhor ter uma pedra “nas costas” que na consciência e que com ela eu poderia construir novos mundos fragmentando sua solidez e tornando-a maleável conforme a lembrança do sentimento que me pesasse em forma de pedra. E nos versos muitas vezes melancólicos de Carlos Drummond de Andrade aprendi á ver quão belo é saber moderar a tristeza, aprisionando-a a fim de que me servisse, fazendo com o que meus sentimentos tomassem forma ante os olhos de quem se atrevesse á viajar em meu universo intimo, porém aberto á todos.
Também não é necessário que sejamos tristes o tempo todo para criarmos algo bom, a alegria também nos inspira com suas matizes contagiantes, e de igual forma nos abre as portas da imaginação.
Certa vez me indagaram sobre meu recolhimento contínuo para escrever e ler, insinuando que era depressão, bom... erroneamente pensam que estar em casa na agradável companhia de um bom livro é manifestação depressiva, mas eu não consigo ver de outra forma a não ser a de conhecermos a mentalidade e os mundos de pessoas que expressam de forma apaixonada e apaixonante o que lhes vem de dentro, seja do coração ou simplesmente da mente e que levariam a eternidade se o fossem viver.
Sempre tive consciência que apesar de um livro ser uma boa companhia nunca substituirá a presença humana ou de qualquer um de seus atos, mas também não esqueço que é uma das melhores formas de aprendizado. Confesso que sempre tive um pouco de medo das pessoas, por isso desde os 9 anos de idade me descobri apaixonada pela leitura, ao ler a “Luneta Mágica” de Joaquim Manuel de Macedo, em que fala da hipocrisia humana em suas diferentes formas e de como se espelha em nossas vidas, falando da miopia moral que nos turva as vistas do entendimento. Vindo da biblioteca do Sargento reformado da PMMG e advogado José Gomes dos Santos ou simplesmente nosso tio Zezé, pessoa maravilhosa e que eu admiro ao extremo apesar de não mais estar entre nós.
E voltando á tristeza, assunto que me inspira á escrever hoje, creio que exista uma certa tendência em querer afastá-la quando mais fácil é transformá-la em algo proveitoso e visivelmente sensível e belo, eu bem que tento, pelo menos é uma forma de levar comigo a pedra que está em meu caminho, ciente que de alguma forma em algum momento ela me servirá quando for necessário usá-la propícia e oportuna, agora, se assim não o for, simplesmente a descerei “das costas”, me sentarei sobre ela e esperarei o tempo passar, na beleza triste a qual espelha os olhos e as palavras de tantos poetas que se fizeram em poesia para mostrarem a beleza da tristeza que traziam consigo, transformando um sentimento sem valor para muitos em reluzentes pérolas poéticas.

Raquel Luiza da Silva.

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