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segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Palavras ao vento.


A titubear por entre os vãos dos telhados,
Espalhar-se incognitiva pelas arestas não vistas,
De forma a surfar nas bocas de hálito quente,
Como pérolas ou pérolas de significado contundente.

Rasgando o ventre do silêncio intocável,
Bailando de forma incensurável,
Veloz de tão lenta que soa,
Tão lenta de tão veloz a pluma que voa?

Com profundidade do abismo,
Ou de um pires o eco não soa ,
Tilintar de palavras mortas,
É o surdo á espreitar por de trás da porta.

Correta de tantos erros que povoa,
Grafia sem linhas, sem letras absortas,
Línguas que falam, palavras que não se calam,
Tocadas pelo tempo, são palavras ao vento.

Raquel Luiza da Silva

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

A mulher que fumava poesia.


Detesto cigarro, é como se a vida se esvaísse em forma de fumaça, pútrefa e fétida, consumindo aos poucos a pobre carcaça humana, mas ai vem a frase ao se tratar de morte lenta: “E quem disse que tenho pressa?”
De fato deve ser mais agradável morrer aos poucos se cobrindo dos prazeres de pequenas ou longas baforadas, sugar um canudo de papel cheio de fumo e outras coisas mais e soltar no ar, como se ali fosse uma maneira de dizer, “eu tenho o poder”.
E descobri em conversa com uma amiga que cigarro é algo nocivo á vida poética, talvez mais que aos pulmões, motivo pelo qual agradeço á Deus por não ter fumantes em casa, se bem que com a modernidade de agora abandonei os velhos cadernos e montes de folhas de outrora.
Então ... tenho uma amiga que gosta de poesia, tanto quanto eu, que só escrevo quando me “dói o cotovelo” o que ultimamente parece ser constante, mas sem motivo aparente ou danoso á minha saúde mental e moral, coisas que ainda me restam, ou que ainda não perdi.
Pois bem, eu perguntava á minha amiga sobre seus poemas, a fim de lhe providenciar um blog, para que ela pudesse mostrar aos seus amigos sua criatividade e fiquei perplexa com sua resposta, por isso tentarei fielmente mostrar o nosso breve diálogo.
“_Então Gil, posso fazer um blog para você, é só me trazer suas poesias.
_Não posso.
_Mas porque?_Indaguei, já sem jeito pela negativa.
_Minha mãe fumou minhas poesias.
_?_Me era estranha tal explicação, como poderia alguém fumar poesias?Mas resolvi tentar ser inteligente._Está tentando dizer que sua mãe adora poesias e por isso as absorve, como alguém á tragar um cigarro, é isso?
_Não! Ela fumou minhas poesias!
_Então, como?
_Bom...Todos dias ela ia ao caderno onde escrevia e arrancava uma folha...
Talvez ela não gostasse do caderno e preferia ler as poesias soltas.
_...Colocava fumo, a enrolava, acendia o fogo e...
_Oh! Que lástima!
_E assim ela fumou todas as minhas poesias, uma por uma.”

Se já não gostava de cigarros após esse diálogo passei á detestar mais ainda, mata o ser humano, mata a poesia, o que mais faltará matar?
Por favor, não respondam, porque ainda existe tanta coisa que pode ser respondida, melhor deixar que mate em silêncio, ou ruidosamente, sem que respondam.
Mas então foi isso fiquei á imaginar a senhora, mãe de minha amiga á tragar do canudo cheio de versos e entupido de fumo as belas palavras que havia lido há algum tempo atrás, mas fico feliz, quando ela morrer não morrerá na ignorância, indiretamente absorveu um pouco de paz e sentimento que só se absorve quando se "fuma poesia".


Raquel Luiza da Silva

Distância


A distância se transforma em espirais,
Tomando as formas de minhas dores e ais,
Manifesta-se tão intensa, impiedosa saudade,
Consumindo-me em suas várias fases,


Ora um vulcão impiedoso á invadir-me,
Ora como um doce sonho generoso,
Mas ambos carregam de mim fragmentos,
Mostrando que a força em si é um grande tormento.

Não se sabe se o amor é mais forte que a dor,
Abraçando de forma irreal o que sou,
Faça se a luz em vida vazia,
A espera de ser o que fui um dia.

No romper da aurora,
Corrompe-se no peito o coração que a alguém adora,
Não se importando com as lágrimas,
São cristais líquidos, como a chuva lá fora.

E o tempo não corre, se arrasta,
De forma desconexa como a pedra na vidraça,
Se espalhando em cacos coloridos,
Deixando um espaço sólido, vazio, ferido.

E assim a distância se faz,
Consumindo esperanças, diminuindo minha paz,
Alcançando o infinito em mim,
Transformando-se em aspirais.



Raquel Luiza da Silva

sábado, 22 de agosto de 2009

Fragmento do livro Olívia


“Rompendo as barreiras do preconceito”.

Capítulo I


Leonardo Gusgam Filho vislumbrava o corpo sobre a cama, apenas o lençol branco de seda chinesa cobria parcialmente a nudez do jovem que dormia tranquilamente, tinha o rosto coberto pelos cachos loiros que brilhavam sob a luz do sol que invadia o quarto pelas persianas abertas, o executivo ajeitou o terno no corpo e deu as costas, queria ficar, porém tinha compromissos na empresa de cosméticos onde era cotado á presidência, fechou os olhos ainda sentindo o cheiro daquele corpo que o perturbava, voltou a si imaginando quão desastroso seria para sua carreira e reputação se alguém ao menos imaginasse aquela cena.
_Não vai me dar um beijo de bom dia?
A voz rouca fê-lo se voltar.
_Não queria acordá-lo.
_Ainda é cedo, não gostaria de voltar para a cama?
_Pedro... Pedro...Sou um executivo, não posso me dar ao luxo de ficar até tarde na cama.
_É verdade, às vezes a vida de artista não me priva de alguns prazeres, mas tudo bem, também tenho que ir, uma modelo me espera e tenho que pinta-la em uma semana, você me da uma carona?
_Claro!
_Podemos passar em algum lugar e tomar um café, o que acha?
_Seria bom, mas não tenho tempo.
_Gostaria que passasse mais tempo comigo.
_Eu sei, mas não posso, não por enquanto.
_Você está estranho, aconteceu alguma coisa?
_Não, nada, vamos?
Por ser aquele um prédio de luxo, não havia transito constante pelos corredores, Leonardo e Pedro param a espera do elevador.
_Por favor, Pedro, aqui não!
_Porque não?_Ele riu maliciosamente fazendo aparecer as covinhas que lhe davam um ar infantil.
_Pirou?Estamos no corredor!
_Está bem, já sei... As pessoas podem estranhar dois homens se beijando e ai você vai ficar constrangido porque é um empresário conceituado no ramo de cosméticos e não quer colocar o nome da sua família a perder.
_Você coloca tanta fatalidade em suas palavras que chega a dar medo, sabia?_Beijou-o rapidamente._Só não quero chocar as pessoas que moram aqui.
_E desde quando o amor choca as pessoas?Hello,estamos no século XXI!_Estalou os dedos.
_Está bem... _Ajeitou o paletó e apertou a gravata assim que entrou no elevador.
_Quando é que vai me deixar pintar você?_Tocou-lhe o rosto com as costas da mão.
Leonardo se afastou ao notar o olhar curioso da vizinha do 261 que os observava antes da porta se fechar.
_Você deve conter seus ímpetos afetivos na frente das pessoas Pedro!
_Você chega a me irritar com essa sua discrição excessiva._Virou o rosto demonstrando irritação.
_Eu te amo meu anjo._Tocava os cabelos encaracolados e loiros, que se espalhavam volumosos naquela cabeça ainda jovem e cheia de conceitos revolucionários._Só que tenho meus motivos para não vivermos como um casal.
_Até quando Léo?
_Até quando for necessário, só isso.
_Não suporto essa espera, sabia?Saí de casa, briguei com,meus pais ao assumir o que sinto por você, acha fácil saber que seu próprio pai te mataria se entrasse em casa e que sua mãe vive dizendo que a sua preferência sexual é apenas um surto de personalidade e que vai passar?
_Sei que não é, por isso quero que se acalme, saiba esperar.
_Esperar...Não sei até quando vou suportar isso, sempre a mesma coisa, as vezes acho que estou perdendo meu tempo com essa relação.
_Acaso está pensando em acabar com a nossa história?São quatro anos juntos, acha que estou a brincar com você?
_Esquece, vou para meu AP, te ligo mais tarde._Saiu apressado assim que a porta do elevador se abriu.
Leonardo o deixou ir, lhe conhecia o gênio indomável, esperaria que ele se acalmasse e ligasse mais tarde, era como sempre acontecia quando brigavam, tinha seus rompantes passageiros de cólera, mas assim que esfriava a cabeça o procurava novamente.
_Pouca vergonha.
A senhora do 261 murmurou ao se encontrar com Pedro na saída do prédio.
_O que disse?
_Que é uma pouca vergonha dois homens se namorando.
_Olha aqui... _Tinha o rosto em brasa. _...Não vale a pena gastar nem meu linguajar vulgar com a senhora. _Saiu ganhando o jardim do prédio.

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.Mal o começara a amanhecer Leonardo desligara o celular, se vestira, apanhou alguns papéis e saiu, a casa ainda estava escura, olhou o relógio de pulso, eram duas da madrugada, entrou no carro, fez um gesto para que o segurança abrisse o portão, seguiu a avenida central, pegou o desvio na rua Clauss e estacionou em frente ao apartamento na Rua Lionel Thornes, acendeu a luz, o cheiro de mofo já invadia o lugar, abriu as janelas para que ficasse um pouco arejado, se sentou na poltrona e ficou a reviver em sua mente os momentos maravilhosos que tivera ali com seu anjo.
_Eu estraguei a nossa vida Pedro. _Fechou os olhos contendo as lágrimas, se levantou e começou a vasculhar as tralhas que se encontravam amontoadas num canto da sala, achara o que procurava, uma corda, puxou suas extremidades para ver se estava resistente, após constatar que sim amarrou uma das extremidades numa das vigas de madeira do teto, na outra confeccionou um laço, o qual enfiou a cabeça após subir sobre a poltrona, fechou os olhos apertando-os.
_Meu Deus, nem me matar consigo... _Se livrou do laço deixando o corpo cair sobre a poltrona.



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_O que você fez, minha menina?O que nós fizemos?Talvez se não tivesse colocado você para fora de casa nada disso teria acontecido, eu também sou culpado pela sua morte._Chorava abraçado ao corpo._Me perdoe por favor, me perdoe, eu falhei na minha missão de pai, não estive com você quando mais precisou, não te dei meu ombro quando o procurou, onde estiver agora que seja capaz de me perdoar._Ergueu e com as mãos sobre as dela pronunciou uma breve oração e em seguida começou a cantar um hino que parecia lhe brotar das profundezas da alma :
“Quando o sofrimento turva o meu olhar, apenas posso ver a escuridão do desespero, enquanto a dor dilacera o meu ser.
Volto os olhos para os céus e onde está Deus?
Do alto posso ouvir sua voz de trovão a responder :
Estou em você
Estou com você
Sou tão impuro e sem forças, mal consigo me por de pé
E Ele me vem cheio de luz e esplendor e me diz:
Estou em você
Estou com você
Peço que me toques, Senhor, que me veja como sou
Pobre servo pecador á procura de refrigério
Volte seus olhos e veja meu corpo curvado e cansado
E ouço a sua voz a me dizer:
Estou em você
Estou com você
Tome-me pelas mãos e me conduza pelos campos verdejantes, junto ás fontes de águas mansas
Não me abandone á minha própria sorte
Tome minhas mãos Senhor e me conduza pelos caminhos da tua verdade
E ouço tua voz a dizer:
Estou em você
Estou com você...´´


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_Está bem, mas porque queria que eu viesse com urgência?Acaso consegui um doador?
_Sente-se, por favor.
Pedro ajeitou a camisa e se sentou na maca.
_Na verdade não e temos que correr contra o tempo, acho que você já deve ter pesquisado sobre sua doença e visto que é um dos tipos de leucemia mais agressivos.
_Sim, sei. _Baixou a cabeça, não queria que o médico notasse que sentia medo.
_Então não podemos esperar que ela se espalhe com velocidade maior, terá que se submeter à quimioterapia.
_Está bem.
_Pense sempre positivo é importante em qualquer quadro clínico, terá que ter força nesta fase.
_Vou tentar, quando começarei o tratamento?
_Amanhã.
_Tão rápido?
_Está na hora, Pedro, acho que deveria tentar falar com seu pai sobre sua doença, ele pode ser um possível doador.
_Acho que o senhor deve ter conversado com ele, pelo que ouviu sabe que mesmo que fosse ele não doaria.
_Mas num caso desses um pai sempre se rende...
_Um pai doutor, não o Gregory Menger, bom... Tenho que ir.


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Eram 10:25 da noite quando o médico abriu a porta do quarto, Leonardo estava ao lado do leito, olhava para a figura pálida sobre a cama.
_Doutor...?
_È como pensávamos, o estado de saúde dele está piorando.
_Quanto tempo ele tem de vida?
_Não gosto de estimativas, mas digo que se dentro de um mês não aparecer um doador ele perderá todas as chances de conseguir.


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_Papai?!
_Eu não poderia deixar de vir. _Estendeu os braços para abraçar o filho.
_Obrigado. _Abraçou-o.
_Eu estive errado todo esse tempo, você é meu filho, não poderia ter feito o que fiz.


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_Laviny?_ Identificou-a após alcançar o interruptor.
_Quero você hoje, por favor, não me mande embora, eu te amo Léo, mais que tudo!_Não estava bêbada, mas mantinha aquele diálogo febril tocando-lhe o rosto com as mãos trêmulas. _Me perdoe pelas coisas idiotas que fiz, me deitava com o Ralfy, mas era seu corpo que eu desejava, você é tudo o que quero e...
_Chega Laviny._Gritou, mas se arrependera ao ver a frágil figura se encolher no canto da cama._Separação de corpos será melhor para nós dois.


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_Ralfy, já está tudo pronto, os microfones estão instalados, ali embaixo da mesa e outro atrás daquele quadro, tem uma câmera no coqueiro ornamental, o peso de papel é uma e a última está ali no lustre.
_Ótimo Willy, como sempre, fazendo trabalhos de profissional, acho que não perderei nenhum ângulo e nenhuma conversa, será um verdadeiro reality show.
_Não se pode perder tempo, não é?Mas me diga uma coisa, quem você está querendo ferrar?
Ralfy sorriu passando os braços por sobre os ombros do amigo.


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_O que faço agora, senhor Brumer?
_Pensaremos em algo, apenas peço que haja controle das emoções entre vocês dois.



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_Maria, onde está o meu bebê?_Jogou a bolsa sobre o sofá enquanto abraça a empregada.
_Me deixa seu tarado!_Brincou.
_A Olívia está dormindo?
_Não, a Ivy a levou para conhecer o pai.
_A Ivy o que?
_Isso mesmo, levou a amenina para ver o pai.
_Ela devia ter me dito que faria isso, não podia simplesmente sair assim e pronto.
_Olha Pedro... _Deixou o espanador sobre a estante. _... Sei que o que vou dizer vai doer, mas tenho que falar, não fique se iludindo muito, a Ivy é uma boa pessoa, mas está enfeitiçada por aquele homem, ele não presta, mas ela o ama, se as coisas estiverem indo como ela fala, a qualquer momento poderão ir morar juntos, por isso quero que tenha os pés no chão caso isso aconteça.
Ele baixou a cabeça.
_Eu nunca irei deixar a Olívia, Maria, aconteça o que acontecer, e sei que ela não aceitará outro como pai, é uma criança inteligente e sente o tamanho do meu amor por ela.


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_Denzel..._Não obteve resposta._Denzel...Olha, vou lhe contar a minha história, sei que você não está dormindo.Quando eu descobri que era gay foi um choque pra mim, apesar que desde criança me achei diferente dos meus colegas de classe, até ai tudo bem, eu era só uma criança, mas o tempo foi passando...passando...Quando adolescente fugia das meninas que se insinuavam para mim, as pessoas achavam que eu era tímido, a verdade é que eu não sentia nada por elas, me arrisquei a sair com algumas, isso me assustava, quando completei 19 anos já sabia o que era e o que queria, contei á minha mãe, ela me levou a um psicólogo, ficara preocupada, mas na cabeça dela eu estava apenas confuso e me acertaria depois, acho que a ficha dela só caiu quando contei a meu pai, se não fizesse isso iria estourar, me lembro como hoje, era uma noite de domingo e chovia muito, ele arrancou o sinto e me bateu como nunca fizera, pois jamais me havia levantado a mão, apesar dos gritos e intervenções de minha mãe ele não me deixou, enquanto não me viu sangrar não largou aquele sinto, me arrastou até o jardim, abriu o portão e me lançou na rua, dizendo que o filho dele acabara de morrer, nunca mais me aceitou em casa, nem mesmo quando minha mãe se suicidou._Continuou após um profundo suspiro._Acho que o que me mantêm de pé é a amizade da Ivy que anda um pouco abalada e a minha Olívia,mas se quer saber, tive um amor, um homem maravilhoso, sei que isso não interessa á você, mas não é o único que me julga e nem o será, só queria que soubesse uma coisa, que eu não pedi para nascer assim e nem escolhi, acaso já tentou comer brócolis e ervilhas quando os detesta? É a mesma coisa, não podia eu ficar com uma mulher sem sentir atração por ela, as coisas nem sempre são como desejamos, eu enfrento desafios todos os dias sabendo que posso me deparar com alguém que vai me destratar por eu ser como sou, um humano que se assume, quase morri por isso e por ironia do destino salvei meu algoz, a vida é muito engraçada... É só isso, boa noite Denzel.


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_Quero levar a menina para morar comigo.
_O que?Deixa-me ver se entendi direito, você quer levar a Olívia com você, é isso?
_É um direito meu.
_Você não tem direito algum ao se tratar da minha Olívia, eu a registrei, eu dei a ela nome que você negou, sou o pai que você será incapaz de ser, eu estive ao lado dela nos primeiros passos, acordei de madrugada para ver se ela estava coberta, fiquei preocupado quando ela teve febre, vi o primeiro dentinho dela... E você ainda quer que alguém acredite que é o pai dela?
_Agradeço a você por tudo isso, mas é hora de fazermos a coisa certa, vou levá-la comigo.
_A Olívia não sai dessa casa.
_Tudo bem, nossa briga será na justiça, quero ver a quem o juiz dará a guarda, a um homossexual que a registrou ou ao pai verdadeiro.


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_Também a validade desse documento é incontestável, é certo que o senhor Luige Morval é o pai biológico da criança Olívia Dias Menger, assim registrada pela mãe senhora Ivy Dias e pelo pai adotivo, como trataremos o senhor Pedro Clávora Menger.
_Então senhor juiz, com esta prova incontestável, não há porque levarmos adiante esse julgamento já que tem em mãos esta prova maior.
_Doutor Setúbal, deixe que eu decida até onde levaremos essa sessão.


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_O senhor tem filhos, doutor Setúbal?
_Sim, um casal.
_Pode me dizer qual a idade deles?
_A menina tem 5 anos e o menino 11.
_Obrigado, creio que apesar do seu trabalho corrido, ainda encontra tempo para no mínimo passar em casa, beijar-lhes e dizer que os ama.


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_Senhor meritíssimo...
Todos se voltaram em direção a voz, onde a babá Nancy de pé erguia o braço.
_Peço permissão para mostrar uma coisa, antes que dê o veredicto meritíssimo.
_Quem é você?
_Sou Nancy, fui contratada como babá da menina Olívia pelo casal Morval.
_Está bem, permissão concedida.


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_Sabe qual a imagem que tenho de liberdade?_Aconchegou a cabeça no colo de Leonardo.
_Não imagino.
_A Olívia inclinada sobre peitoral da janela do meu quarto com as mãozinhas fechadas em concha, na verdade não me preocupei muito com o que ela segurava, apenas tive medo que caísse lá de cima, e quando me aproximei ela tinha o olhar aflito de criança a fazer arte, abriu as mãozinhas e gritou: ”_Voa amarelinho, voa!” Na hora tive vontade de dar-lhe umas palmadas, mas resolvi perguntar, porque havia feito aquilo, soltado o canário belga que eu tanto amava, e ela me respondeu: _ “Papai, eu não gostaria que você estivesse preso numa gaiola.”Na verdade nunca havia notado a tristeza daquele bichinho, acho porque o via como minha única companhia, porém sempre preso, quando livre algumas vezes o ouvi cantar como nunca em uma árvore em frente minha janela, ele ansiava por liberdade e eu ansiava por companhia, mas ele não era feliz e eu fingia ser, por isso o privei de voar.
_É engraçado, são as pequenas coisas e os pequenos gestos que nos ensinam grandiosamente.


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_Verdade, por isso acho que valeu a pena cada minuto de agonia, de medo e de sofrimento, isso me deu mais vontade de ser feliz.
_Eu sei, é como dizem não é?”A felicidade é refinada nos piores sentimentos.”



Raquel Luiza da Silva








quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Ufania do desejo.


Ele observava o corpo nu sobre a cama,
Apenas a lua a servia de ama,
A pele tocada,
A inocência há muito tomada.
Seus olhos ardiam,
Sentia frio,
Acendeu um cigarro,
Soprou a fumaça para o alto,
Sentia-se estranho em seu próprio corpo,
Se fora tão bom porque tamanho desgosto?
Cobriu-a com o lençol,
Não suportaria ver sua nudez aos raios de sol,
Ficou á olhar a rua,
Sem movimento, sozinha, nua...
Acendeu outro cigarro,
Passou a mão pelo rosto de suor molhado,
Sua ufania de jovem rapaz,
Nem sempre lhe trazia tanta paz,
Numa rapidez tamanha vestiu-se,
Apagou a luz que brotava de uma única lâmpada,
Deixou o dinheiro em um canto da cama,
Saiu sem fazer barulho, olhou-a com singeleza como se fosse uma santa,
Desceu rapidamente as escadas,
Andou sem olhar para trás, talvez alguém o observasse da sacada,
Seguia com passos rápidos
A melodia era das pedras e dos sapatos,
Nunca havia chorado,
Mas sentia naquele momento o coração apertado,
De repente viu-se só,
Sentia que havia tido apenas o prazer de um corpo junto ao seu,
Desejou que ela tivesse sido sua Julieta e ele apaixonado Romeu,
Começou á notar que nunca havia sido amado,
Belo rapaz, estrela de brilho apagado,
Poderia ter tantos corpos que quisesse,
Dormir em tantas camas que lhe apetecesse,
Mas não reteria nenhum calor,
Do tipo que só permanece junto aos corpos que se inundam pelo desejo,
Quando guiados pelo amor.

Raquel Luiza da Silva

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Incerto.


Tão insólido sentimento,
Que toma formas modelado pelo tempo,
Fez-se de sonhos e realidades,
Coberto de incertezas e verdades,
Confrontando-me com meus medos,
Revelando tão íntimos segredos,
Dissolve-se á noite,
Ao amanhecer resplandece sob a brisa de doce açoite,
Fazendo-se e desfazendo-se em versos e prosas,
Repousando-me em camas de espinhos e rosas,
Com tamanha força e destreza,
Que sem usar cordas ou correntes, matem-me presa,
Feito de razão,
Não se sabe se constituído de realidade ou ilusão,
Sem pedir licença abre as portas da minha vida,
Escancara as do coração,
Estende-se em lágrimas e sorrisos,
Faz-se de coisas reais e sem sentido,
Parece que de alguma forma me inebriou,
Deixo agora me levar pela certeza incerta,
Desse sentimento tão cheio de mistério,
Que durante anos tantos rimam em versos,
Que deixa transparente tudo que sou,
Rendo-me a esse sentimento inexplicável e controverso,
Que rege todo o universo, denominado amor.


Raquel Luiza da Silva

domingo, 16 de agosto de 2009

Inexplicável.


Tão intenso quanto tudo que já vivi,
Tão imenso quanto tudo que pensei existir,
Com a imensurável força de uma tempestade,
Coberto de tanta beleza e verdade.
Tão maravilhoso quanto o arco-íris á riscar o céu,
Tão doce quanto o mais puro mel,
Com a insensatez das palavras,
Com a realidade da saudade,
Fez-se,
Criou-se,
Formou-se.
Amor?
Inexplicável,
Indiscutível,
Imprevisível.
Tão ludibriante quanto uma ingênua piada,
Tão belo quanto Julieta a esperar seu Romeu da sacada,
Com a realeza de tantos sonhos de glória,
Como algo a se perder, dissolver na história,
Doce,
Indivisível,
Impossível.
Tão cheio de graça,
Tão sem sabor de ameaça,
Com a singeleza de tantos desejos,
Como algo forte, desprovido de medo.
Amor?
Não sei,
Se souber não o saberei explicar,
Ficará bem aqui guardado,
Num lugarzinho cercado de solidão,
Designado para sempre coração.


Raquel Luiza da Silva 16/08/09

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Liberdade!


É a luta estampada na cara da história,
É a liberdade com sabor de suor, dor e glória,
É a ferida na carne, na alma...
É o sonho de uma raça, não apenas de uma cor.
O nêgo subiu a ladeira acorrentado, apanhou no pelourinho foi coitado, purgou seus pecados...
A preta chorou pelo filho de seus braços arrancado...
O preto velho relembrou com saudade dolorida a “mãe preta”, terra de ventre aberto, mãe África querida...
E Deus disse que o Brasil seria a terra de todos os Santos, Iemanjá Exú, Nãnã, Ogum...
E que abrigaria todos os povos e que o nêgo da senzala seria liberto e cantaria sua liberdade em todos os cantos em toda parte.
Fez-se a história de suor, sangue e dor...
Fez-se o caminho para se abraçar a vida longe da chibata de um senhor.
O sonho de Zumbi e de tantos guerreiros, da atrevida Xica, da mãe velha do terreiro.
No gingado da capoeira e na roda de samba, gira o Brasil, terra Luanda.
Hoje não tem chicote nem senhor, nêgo é doutor,
Ainda que haja desigualdade, nêgo se ergue pra sua verdade:
Carrega na cor a história doída e a força gloriosa de sua raça sofrida,
Porque tem a cor da liberdade que Boby Marley cantou, Tem a cor da igualdade pela qual Lutterking lutou, Tem a cor da batalha que Zumbi travou,
Pra mostrar ao mundo que raça é negra, preto é cor.


Raquel Luiza da Silva

Deixo


Deixo minha vida fluir em forma de caracol,
Dando voltas em torno do tempo,
Se fazendo em versos sem rima,
Rimando ao som do vento.

Deixo minha vida andar há passos lentos,
Num cansaço, quem dera eu, eterno,
Que se perdesse no contar dos anos,
No doce de um sorriso sincero.

Deixo minha vida correr deixando minhas pegadas,
Passos firmes e certos,
À procura de coisas que ainda não sei,
Ao encontro de tantas pessoas que amei.

Deixo minha vida fluir,
Como um rio de profundidade infinita,
Transpondo caminhos, enlaçando vidas,
Correndo livre e imenso rumo ao grande mar que é o tempo.

Deixo minha vida se encher de tantas outras,
Que se entrelaçam em meu coração,
Vivendo cada minuto de curtas horas,
Para não pensar em ir embora.

Apenas deixo minha vida,
Cheia de tantos caminhos,
Correr entre relva e espinhos,
Para um dia se findar com a graça do pequeno rio, a se encontrar com o imenso mar.


Raquel Luiza da Silva

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

A busca


Um dia o homem acordou para a vida,
Descobriu que as bombas que fabricava só lhe aumentava a ignorância,
Que as armas letais, só serviam para exaltar sua incapacidade de amar,
E chorou, chorou feito criança, porque seus atos lhe pesaram em forma de lembranças.

Um dia o homem olhou para trás,
Notou que não havia nada mais além de seu passado,
Transformara o verde, em terra seca que lhe esfarelava sob os pés, ali estava o fruto de sua ambição.
Curvou-se sobre o que era mar e notou que estava só, sem vida, sem lar...

Um dia o homem olhou para o céu, os pássaros de metal brilhavam sob o sol,
Era a luz da morte refletida pela sombra das guerras, cortando o espaço, sangrando a terra,
E então chorou, se lembrando de tantas crianças, de tantos pais...
Chorou por não poder voltar atrás.

Um dia o homem não mais pôde voltar para sua forma real,
Havia se transformado em animal,
Matara tanto que já não mais sabia o era paz,
Perdera-se, vendera-se, voltar ao seu normal não mais era capaz.

Suas mãos sangravam, estavam sujas de tanto ceifar vidas,
O coração em frangalhos, não trazia alegres recordações de sua vida,
E a alma, ele nem sabia mais se existia,
Procurava algo, rever, sentir a luz do dia.


Então naquele momento o homem descobriu que ainda era primata,
Porque a evolução constrói, reconstrói, não mata,
E passou a vagar, tentando se encontrar, como verdadeira criação,
Abandonou as armas, abandonou as bombas e seguiu em busca da verdadeira evolução,
Que transforma alma, mente e coração.
Raquel Luiza da Silva