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quarta-feira, 26 de agosto de 2009

A mulher que fumava poesia.


Detesto cigarro, é como se a vida se esvaísse em forma de fumaça, pútrefa e fétida, consumindo aos poucos a pobre carcaça humana, mas ai vem a frase ao se tratar de morte lenta: “E quem disse que tenho pressa?”
De fato deve ser mais agradável morrer aos poucos se cobrindo dos prazeres de pequenas ou longas baforadas, sugar um canudo de papel cheio de fumo e outras coisas mais e soltar no ar, como se ali fosse uma maneira de dizer, “eu tenho o poder”.
E descobri em conversa com uma amiga que cigarro é algo nocivo á vida poética, talvez mais que aos pulmões, motivo pelo qual agradeço á Deus por não ter fumantes em casa, se bem que com a modernidade de agora abandonei os velhos cadernos e montes de folhas de outrora.
Então ... tenho uma amiga que gosta de poesia, tanto quanto eu, que só escrevo quando me “dói o cotovelo” o que ultimamente parece ser constante, mas sem motivo aparente ou danoso á minha saúde mental e moral, coisas que ainda me restam, ou que ainda não perdi.
Pois bem, eu perguntava á minha amiga sobre seus poemas, a fim de lhe providenciar um blog, para que ela pudesse mostrar aos seus amigos sua criatividade e fiquei perplexa com sua resposta, por isso tentarei fielmente mostrar o nosso breve diálogo.
“_Então Gil, posso fazer um blog para você, é só me trazer suas poesias.
_Não posso.
_Mas porque?_Indaguei, já sem jeito pela negativa.
_Minha mãe fumou minhas poesias.
_?_Me era estranha tal explicação, como poderia alguém fumar poesias?Mas resolvi tentar ser inteligente._Está tentando dizer que sua mãe adora poesias e por isso as absorve, como alguém á tragar um cigarro, é isso?
_Não! Ela fumou minhas poesias!
_Então, como?
_Bom...Todos dias ela ia ao caderno onde escrevia e arrancava uma folha...
Talvez ela não gostasse do caderno e preferia ler as poesias soltas.
_...Colocava fumo, a enrolava, acendia o fogo e...
_Oh! Que lástima!
_E assim ela fumou todas as minhas poesias, uma por uma.”

Se já não gostava de cigarros após esse diálogo passei á detestar mais ainda, mata o ser humano, mata a poesia, o que mais faltará matar?
Por favor, não respondam, porque ainda existe tanta coisa que pode ser respondida, melhor deixar que mate em silêncio, ou ruidosamente, sem que respondam.
Mas então foi isso fiquei á imaginar a senhora, mãe de minha amiga á tragar do canudo cheio de versos e entupido de fumo as belas palavras que havia lido há algum tempo atrás, mas fico feliz, quando ela morrer não morrerá na ignorância, indiretamente absorveu um pouco de paz e sentimento que só se absorve quando se "fuma poesia".


Raquel Luiza da Silva

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