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quinta-feira, 23 de abril de 2009

O tempo




Minhas mãos estão paradas, cruzadas sobre minhas pernas cansadas,
Meu corpo se inclina suavemente, curvado pelo peso que já não suporto mais,
Meu olhar vago passeia por entre as ramagens do jardim,
Não sei por que ,ou pelo quê ainda estou aqui.

O vento a me balouçar os cabelos cor de nuvem,
A brincar como bela criança travessa a roubar doce na cozinha.
Ah...! Doce lembrança que me assalta, do tempo da minha mocidade...
Onde se amava e vivia sem nenhuma maldade.

Retalhos, retratos, flashs de um passado que se foi,
Cuja marca ficara na memória até agora,
Da velha mãe, do velho pai, dos manos mais novos, da namoradinha...
Ah...! Doces lembranças sem fim que ainda insistem em viver e aflorar dentro de mim.

A mente não se entrega ao tempo, parece perpetuar o que passou...
Me leva ao velho casebre onde tudo começou e de repente...
Volta novamente e me faz encontrar quem de fato sou...
Sentado no jardim, com o peso da idade a me curvar, sobre a felicidade que já passou e jamais regressará.

Sinto o cheiro das flores, vejo as abelhas a voar, pássaros a cantar,
Tão perfeita é a criação que me enche os olhos com a triste ilusão de nunca este mundo deixar.
Ah...! Doce ilusão que se vai a cada dia que se passa e eu sei que nunca mais irá voltar.

Doce tempo que me arrasta em suas asas, plumas de sonhos...
Me roubastes a juventude e me atirastes ao mundo onde hoje vivo,
A espera do teu último sopro, de teu último toque... Mundo não mais dos vivos, terna casa, morada da morte.

Deixarei para trás saudade, imagem do que fui numa vida de sorte,
Não mais ficarão meus rastros sobre a terra...
Nem meu andar cansado sobre a relva.
Serei apenas reflexo opaco nas memórias de quem se lembrar.
Direi adeus, não mais até breve, porque está na hora de partir para não mais voltar.



Raquel Luiza da Silva.

Um comentário:

  1. Reflexão nostálgica com um fundo filosófico. Gosto dessas reflexões com a realidade de sentimentos saindo pelos poros. Adorei.

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