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segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Até quando não sei...


Olá bom dia,
Posso saber por onde andas, dona Esperança?
Seu silêncio incomoda-me deveras,
Sou sincero em declarar-te minha preocupação,
Visto que os homens digladiam-se por míseras moedas,
Visto que os valores encontram-se perdidos,
E a senhora Moral...?
Essa foi-se para longe, ninguém mais a viu.
O que era dito racional, sofreu severa mutação,
Não sabe-se mais a diferença entre animal e homem...
Os caçadores andam a solta,
Corpos tombam com a mesma velocidade que os patos em época de caça,
A caçada começou.
Não sei se vês o noticiário,
Creio que o jornaleiro também por aí deixou a profissão,
Aliás, ninguém mais quer sair ás ruas,
Pelas grades de minha janela vejo o sol nascer,
Sou homem livre,
Livre da liberdade que me era merecida,
Ontem adormeci lendo um velho livro, hoje já não sei se conseguirei,
As pessoas tremem ao ouvirem passos pelas ruas,
Não sabem se é polícia ou bandido,
Aliás, tememos os dois...
Alguns profetizam o fim dos tempos,
Outros apenas o tempo de dores que inicia-se,
Eu cá não sei,
Eu cá apenas assisto tudo, em silêncio, temeroso.
Ninguém ouve ninguém, as pessoas gritam juntas.
Nossos governantes não sei...
Assistem esse espetáculo de horror como os antigos romanos,
Deixam que as feras nos engulam e quem sabe nos cuspam?
Não tardais a responder-me,
Ando ansioso em sentir-te novamente,
Aliás, todos nós,
Povo dessa nação dita livre,
Onde o povo é escravo e refém do medo e da inconsequência de quem governa.
Não tardais, porque ainda acreditamos, até quando não sei...
Até quando, não sei...

Raquel Luiza da Silva.







quinta-feira, 8 de novembro de 2012

A pluma e o vento.




E o vento toca-me os cabelos,
Não posso vê-lo,
Mas posso sentir seus dedos invisíveis,
Diz-me algo ao ouvido, 
Um segredo talvez...
São palavras leves, que vão-se...
Palavras de vento.
Abraça-me e foge,
Dá-me as mãos e entrelaça-se entre meus dedos,
Dança comigo uma tênue valsa,
Deixa que sinta-me leve, tal como é.
Depois acalma-se e silencia-se...
Quando penso que foi-se...
Aparece-me novamente a assanhar o vestido e os cabelos,
E corre e deixa-me correr,
E assim sua canção envolve-me,
Acalma-me,
Consola-me...
E quando sinto-me enfadada de tal companhia...
Fecho a janela,
Deixo-me pesar tal como suave pluma a fugir do invisível que a leva.
E o vento lá fora... esquece-se de mim e segue seu rumo,
Pois a nada prende-se, puro vento.


Raquel Luiza da Silva.

sábado, 3 de novembro de 2012

Identidade.


Há um pouco de sombra nas pinturas abstratas dessa mente que vaga,
Ontem arranhei as paredes,
Hoje escreverei um livro,
Sou ser imprevisível,
Humano...
Tocado pelas aparições que desenham-se nos côncavos indeléveis de minha memória,
Apregoando ao mundo as virtudes que faltam-me,
Talvez estejam escondidas embaixo dos tapetes da sala,
Talvez eu esteja escondida por esses cantos...
Minhas digitais apagaram-se,
Tenho uma identidade qualquer,
Num papel com números,
Sou um número transvestido de mulher.
E o dia que nasce lá fora, grita-me com sua luz que cega-me os olhos,
Não quero mais ouvir essa luz que arrebata-me aos dias vindouros de incógnitos futuros.
Não tenho pressa,
Não tenho medo,
Nem dinheiro,
Nem ouro...
Disseram-me que minhas asas são de vento,
Palavras são tempestades de tormentos,
Paradigmas universais que crucificam-me a cada manhã,
E meu grito ecoa levado pela extensão de minhas palavras,
Palavras mudas...
E as horas que desenham-se nesse corpo,
Traçados do tempo,
São caminhos de vislumbre de alguns viajantes,
Homens...
Amantes...
Não digam-me que sou ancoradouro de poucas virtudes,
Não cumulo definições,
Sou mutável.
E na rapidez de meus passos deixo-me perder por esses caminhos,
Numa conversa,
Num sorriso,
Num copo de vinho...
E meu preço é justo,
Valho a infinidade das coisas que cultivo,
Posso valer todos os seus tesouros,
Posso valer as histórias contidas num velho livro.
E não sigam-me os exemplos,
O que sei perde-se por entre os dedos como poeira ao vento.
Se quer de mim desvendar segredos,
Não procure-os nas canções ou nas velhas histórias,
Eu sou apenas o que sua mente comporta,
O arremate de uma escultura da costela de barro,
Fruto de um pecado,
Sou um pouco desse paraíso que a loucura não quer,
Um número, transvestido de mulher.

Raquel Luiza da Silva.

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Daquelas terras.



Eu vim de longe,
Secando o suor do rosto,
Ajeitando a roupa amarrotada no corpo,
Eu vim daquelas bandas,
Onde o sol se cala no horizonte para que venha a noite das palavras,                                                             A lua amante,
De onde o som é mudo diante do silêncio da criação.
Eu vim de lá,
Daquelas terras sem nomes,
Das imaginações fronteiriças,
Onde as águas se dividem,
Onde as pessoas se multiplicam,
Onde a razão dorme seu sono profundo,
Venho daquelas terras,
Daquele pó,
Daquele sopro,
Daquele povo,
Não trago sabedoria,
Trago aprendizado,
Não tenho nos bolsos moedas,
Sou forjado no trabalho,
Não se assuste com meu jeito por vezes rude,
Sou tão humano quanto pareço,
Não se assuste com minhas poucas palavras,
Por vezes me atrapalho,
Mas acredite que sou daquelas terras,
Onde o tempo não corre,
Onde o tempo espera,
Sou daquelas terras, onde se cria, se renova...
Talvez você seja como eu,
Pisando em terreno desconhecido,
Tentando se abster do passado,
Traçando nas linhas as horas que não se demoram,
Talvez você também seja daquelas terras, onde o homem se faz menino,
Onde menino se faz poeta.

Raquel Luiza da Silva.

Saudade tem nome.







Saudade tem nome,sobrenome...
Esconde-se nas linhas do tempo,
Pode ser canção,
Pode ser momento...
Não se define,
Não tem proporção,
É pálida,
Vazia não.
Tem sabor de lágrima,
Tem sabor de sorriso,
Beijo roubado,
Roubado destino.
Saudade tem nome, sobrenome...
É algo, alguém...
Vai-se,
Leva,
Deixa,
Espera...
É companhia,
Marcada,
Arredia.
Saudade só não mata,
Pode doer, mas passa,
Porque tudo que é bom quando vai-se deixa suas pegadas,
Todos que são bons, quando vão-se levam da gente um pedacinho,
E ela descansa,
Esmaece mas não some,
Mesmo pequenina é saudade,
E saudade tem nome, sobrenome...

Raquel Luiza da Silva.






In memorian vô Geraldo, tio João, tia Catarina, tia Madalena, tio Miguel, Alice,dona Maria da Glória, Tony.

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

...

Creio que quando Deus criou o homem não esperava que numa estrutura de barro pudesse se formar um coração de pedra.

Raquel Luiza da Silva.